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Tanta corrupção no ar espantou os Correios do lançamento do selo, que mostra um balão igual ao que alçou voo diante na Esplanada dos Ministérios horas antes, azul e branco, com a promessa inscrita em letras garrafais: "Vencemos a Corrupção".
"Por conta dos casos de corrupção recentes, resolveram cancelar a vinda" – foi a explicação oficial aos 162 representantes de movimentos e organizações que combatem a corrupção no Brasil, na Argentina e no Uruguai, sentados à espera no auditório do TCU. Ironia: o início da safra 2005 de escândalos, até hoje fértil, produtiva, foi a inesquecível cena de um funcionário dos Correios em Brasília, Maurício Marinho, embolsando um maço de R$ 3 mil, como adiantamento de uma propina que acabou transbordando no primeiro mensalão, ao som das óperas de Roberto Jefferson.
Mas o Instituto de Fiscalização e Controle (IFC) lançou assim mesmo o selo anticorrupção, sem carimbo oficial, em tiragem reduzida. E o contexto de medo e fuga dos Correios poderá até valorizá-lo entre filatelistas. Para entrar no auditório do TCU, os caça-corrupção passaram por uma nova versão física do Museu da Corrupção (MuCo), do Diário do Comércio, que na noite anterior, no Copacabana Palace, no Rio, havia conquistado o Prêmio Esso na categoria de Melhor Contribuição à Imprensa em 2009. Foi a estreia de sua maquete, que já traz o anexo para o novo acervo da corrupção no esporte, brevemente em cartaz.
Elza Fiúza/ABr
Jorge Hage, o ministro da Controladoria Geral da União, foi um dos participantes do debate.Foram dois dias de debates sobre "A superação da cultura da corrupção", "Desafios para a mídia independente" e "O que estamos fazendo?", permeados pela divulgação do relatório de 2009 sobre "Corrupção e o setor privado" por Bruno Speck, pesquisador da Transparência
No Dia Mundial de Combate à Corrupção (9 de dezembro), Brasília estava uma festa. Na coincidente comemoração dos 30 anos do PT, mensaleiros do calibre de Zé Dirceu e Luiz Gushiken confraternizavam com outros mil companheiros. E a candidata Dilma Rousseff ganhava os holofotes ao fazer uma curiosa distinção entre corruptos. No caso do governador Arruda, para ela, "as imagens são estarrecedoras, muito duras, muito claras" – e a Justiça deve agir rapidamente. Mas já no caso dos petistas, não há "provas contundentes". A aprendiz de Lula também já reescreve a história. A rua pareceu confirmá-la à tarde: manifestantes chocaram-se com a PM contra o "mensalão do DEM", quando jamais protestaram contra o "mensalão do PT". Enquanto no TCU os caça-corrupção lamentavam a impunidade, constatavam a partidarização do butim e apontavam a educação como melhor antídoto à peste do Planalto, o presidente Lula apresentava-se como o paladino da luta contra a corrupção, como nunca houve antes neste país. E a elevou a crime hediondo, com mais tempo de cadeia – mas isso, se alguém for punido. O projeto que enviou ao Congresso só fará sentido quando e se o corrupto for tratado por corrupto, independentemente de sua filiação partidária.O ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage, deu um presente aos caça-corrupção ("não fulanizamos; caçamos o sistema que permite a corrupção"), encerrando os trabalhos do seminário Superando a Cultura da Corrupção: ele concordou em promover a Primeira Conferência Nacional pela Transparência, Controle Social e contra a Corrupção, em 2010. Era o que queria a Abracci, como explicou Caio Magri: "Se conseguirmos avançar nesse sentido, será um grande passo para o país. Esse foi o objetivo do nosso movimento em 2009, que sem dúvida receberá ainda mais força em 2010, com a realização de uma conferência nacional sobre o tema".