segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Selo contra corrupção alça voo em Brasília

Selo contra corrupção alça voo em Brasília
Só faltou o carimbo oficial para a decolagem. Mas os ventos da corrupção espantaram os Correios.
Moisés Rabinovici - 13/12/2009 - 21h22
Divulgação
Encerramento do seminário sobre "Política Nacional de Combate à Corrupção"O primeiro selo brasileiro alusivo ao combate à corrupção foi lançado no Dia Mundial de Combate à Corrupção, abrindo o seminário "Superando a Cultura da Corrupção", promovido pela Articulação Brasileira Contra a Corrupção e Impunidade (Abracci), no auditório do Tribunal de Contas da União (TCU), em Brasília, a capital da corrupção mais uma vez agitada por um novo escândalo, agora estrelado, em um inédito cine-corrupção, por ninguém menos que seu próprio governador sem-partido, José Roberto Arruda.
Tanta corrupção no ar espantou os Correios do lançamento do selo, que mostra um balão igual ao que alçou voo diante na Esplanada dos Ministérios horas antes, azul e branco, com a promessa inscrita em letras garrafais: "Vencemos a Corrupção".
"Por conta dos casos de corrupção recentes, resolveram cancelar a vinda" – foi a explicação oficial aos 162 representantes de movimentos e organizações que combatem a corrupção no Brasil, na Argentina e no Uruguai, sentados à espera no auditório do TCU. Ironia: o início da safra 2005 de escândalos, até hoje fértil, produtiva, foi a inesquecível cena de um funcionário dos Correios em Brasília, Maurício Marinho, embolsando um maço de R$ 3 mil, como adiantamento de uma propina que acabou transbordando no primeiro mensalão, ao som das óperas de Roberto Jefferson.
Mas o Instituto de Fiscalização e Controle (IFC) lançou assim mesmo o selo anticorrupção, sem carimbo oficial, em tiragem reduzida. E o contexto de medo e fuga dos Correios poderá até valorizá-lo entre filatelistas. Para entrar no auditório do TCU, os caça-corrupção passaram por uma nova versão física do Museu da Corrupção (MuCo), do Diário do Comércio, que na noite anterior, no Copacabana Palace, no Rio, havia conquistado o Prêmio Esso na categoria de Melhor Contribuição à Imprensa em 2009. Foi a estreia de sua maquete, que já traz o anexo para o novo acervo da corrupção no esporte, brevemente em cartaz.
Elza Fiúza/ABr
Jorge Hage, o ministro da Controladoria Geral da União, foi um dos participantes do debate.Foram dois dias de debates sobre "A superação da cultura da corrupção", "Desafios para a mídia independente" e "O que estamos fazendo?", permeados pela divulgação do relatório de 2009 sobre "Corrupção e o setor privado" por Bruno Speck, pesquisador da Transparência
Internacional e membro da Abracci (a íntegra, com 170 páginas, está em
Em geral, no Brasil, o foco de um escândalo recai, principalmente, sobre quem recebeu o suborno, e não tanto sobre quem subornou. Mas o que as empresas em países em desenvolvimento gastam em corrupção de políticos e funcionários de governo alcança um total de nada menos que 40 bilhões de euros por ano, ou US$ 51 bilhões, ou R$ 103 bilhões. Exatamente o valor do pacote da Itália para enfrentar a crise financeira mundial em três anos."O setor privado tem um papel crucial a desempenhar, operando com transparência e responsabilidade", comentou Caio Magri, assessor de políticas públicas do Instituto Ethos e também da secretaria executiva da Abracci. Ele adiantou, tendo lido antes o relatório, que "o caso da Bovespa é citado nele como exemplo de boas práticas nesse sentido". O prejuízo, no final, fica bem maior do que o valor das propinas, pois além de abalar os alicerces da concorrência leal e da confiança entre parceiros, incalculável, os consumidores ao redor do mundo pagam a conta de US$ 300 bilhões a mais em produtos, aproximadamente, graças aos cerca de 300 cartéis internacionais descobertos entre 1990 a 2005.
No Dia Mundial de Combate à Corrupção (9 de dezembro), Brasília estava uma festa. Na coincidente comemoração dos 30 anos do PT, mensaleiros do calibre de Zé Dirceu e Luiz Gushiken confraternizavam com outros mil companheiros. E a candidata Dilma Rousseff ganhava os holofotes ao fazer uma curiosa distinção entre corruptos. No caso do governador Arruda, para ela, "as imagens são estarrecedoras, muito duras, muito claras" – e a Justiça deve agir rapidamente. Mas já no caso dos petistas, não há "provas contundentes". A aprendiz de Lula também já reescreve a história. A rua pareceu confirmá-la à tarde: manifestantes chocaram-se com a PM contra o "mensalão do DEM", quando jamais protestaram contra o "mensalão do PT". Enquanto no TCU os caça-corrupção lamentavam a impunidade, constatavam a partidarização do butim e apontavam a educação como melhor antídoto à peste do Planalto, o presidente Lula apresentava-se como o paladino da luta contra a corrupção, como nunca houve antes neste país. E a elevou a crime hediondo, com mais tempo de cadeia – mas isso, se alguém for punido. O projeto que enviou ao Congresso só fará sentido quando e se o corrupto for tratado por corrupto, independentemente de sua filiação partidária.O ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Jorge Hage, deu um presente aos caça-corrupção ("não fulanizamos; caçamos o sistema que permite a corrupção"), encerrando os trabalhos do seminário Superando a Cultura da Corrupção: ele concordou em promover a Primeira Conferência Nacional pela Transparência, Controle Social e contra a Corrupção, em 2010. Era o que queria a Abracci, como explicou Caio Magri: "Se conseguirmos avançar nesse sentido, será um grande passo para o país. Esse foi o objetivo do nosso movimento em 2009, que sem dúvida receberá ainda mais força em 2010, com a realização de uma conferência nacional sobre o tema".

DC de 14 de dezembro de 2009

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